Fim de Tarde-Praia do Sambaqui-By SergioJr |
Ao mostrar alguns manezinhos, anônimos ou não, busco não só associar sua imagem ligada ao Avaí FC, mas também potencializar o que fazem de bom pela cidade, seu lazer, amigos e trabalho. Tenho certeza de que, assim os leitores do blog encontram pessoas que pensam e agem iguais a eles. Manezinho ou não, o importante é que produza pela cidade, goste de suas coisas e costumes. Principalmente não queira mudar nossos, hábitos e cultura.
“Mané
Termo deixa de ser depreciativo para virar motivo de orgulho entre nativos da Ilha
Está na lei: “entende-se por manezinho (a) todo aquele (a) que guarda o sentimento e o espírito das tradições culturais mais autênticas da gente florianopolitana, desde a velha Desterro...”. Esse é o texto da Lei 7.262, de 16 de janeiro deste ano, que estabelece a canção “Sô Mané”, de autoria de André Luiz Jesus dos Santos, o André Calibrina, como Hino dos Manezinhos.”
Jorge Coelho |
Entre os "de fora" que passaram a ser um verdadeiro mané, destaco Jorge Coelho, o qual tem diversas atuações na área cultural, musico, compositor, escritor, formado em engenharia, surfista e Avaiano. Morou fora do pais, em 2007 participou de um trabalho cultural na” terrinha”Açores, Portugal. Mesmo lutando contra o mal de Parkinson, continua escrevendo produzindo, lançando livro ("Triângulo das Bernunças") e buscando no violão e na música sua força para seguir adiante.
Deixo a apresentaçao de Jorge Coelho por conta de outro grande Avaiano, o qual dispensa comentarios.
Sergio da Costa Ramos&Dona Nesi |
JORGE, CANTADOR E CONTADOR
By Sérgio da Costa Ramos, orelha do livro "Triangulo das Bernunças".
Jorge Coelho, como Villa-Lobos, é uma extensão do próprio violão, cuja anatomia curvilínea sempre foi submissa ao seu colo e sensível ao contato dos seus dedos.
O compositor festejado de Ilha – o segundo hino da Ilha de Santa Catarina – e de tantos outros sucessos, como Paixão Açoriana, Morena Tirana, Segura a Onda, Tosse de Orador, Saia no Dente, Furacão da Costeira, Indomável Prazer, Zimba, Sem, Açúcar, Sem Afeto, Perdido Amor, Gato por Lebre, Esse Piá e Roda Pião, entre dezenas de outras criações, Santa Catarina não só reconhece, como ama e cultiva.
O Jorge Coelho contador de histórias nós vamos conhecer agora.
Um Jorge telúrico, que vai às raízes da infância e da adolescência em Imbituba – sua Zimba querida – Laguna e Floripa, para de lá extrair casos e “causos” gravados no consciente e no inconsciente, “estórias” soltas, pastoreadas no cercadinho da memória e colocadas a pastar no ar livre do seu bom humor.
Há algo de felliniano nas lembranças de Jorge, revivendo seu “Amarcord” na Zimba em que o vento “Siroco” se chama “Teimoso” – um nordestão meio selvagem, que mexe com a psiquê das pessoas e torna inesquecíveis os seus verões.
Em Zimba nasce a criativa generosidade do menino Jorge, que convive em grande harmonia e tolerância com o caricato, o lado chapliniano da vida. É esse humor simples – mas nunca simplório – que torna cada uma das crônicas deste Triângulo das Bernunças um pequeno tratado de como levar a vida rindo da divina e humana comédia – “rindo dos outros, mas também sabendo rir de nós mesmos”.
Cascão, hilária, é crônica que daria comédia clássica de um Mario Monicelli, um Vitorio De Sicca, um Giuseppe Tornatore – o Tornatore de Cine Paradiso, talvez. Jorge Coelho também foi um Totó, garoto curioso que um dia se tornou, ele próprio, um criador de sucessos, sem deixar de colocar-se, ele mesmo, sob o olho indiscreto da câmera mergulhada em sua infância profunda.
O Jorge Coelho, criança, que transformou em comédia a bíblica liturgia do “lava-pés”, em Cascão.
Depois desse banho, descubra como a “raça” ludibriava o cobrador do “Imbituba-Laguna”, trem Maria Fumaça a bordo do qual as crianças de Zimba chegavam até a escola lagunense. O vai-e-vem da molecada tonteava o “guarda-trem”, que gostava de um “Undemberg”…
Sinta-se na erógena pele do autor de Nos tempos de secura, quando os coquetéis de testosterona remetiam os adolescentes aos altares de Onã, em tempo de descoberta de pecados.
Entre para a banda de Rock “The Hits”, e embarque num Ford A, 1929, a bordo do qual Jorge e seus blue caps abrilhantariam a soirée do Itapirubá Clube – em cujo tombadilho chegaram dispersos – e náufragos, com o “ônibus” da companhia no fundo do Oceano Atlântico.
Confira nos termômetros da Paixão Açoriana, a devoção do netinho Jorge à querida vovó Hermínia (que ele não conta, mas há de tê-lo salvo da medonha surra insinuada na crônica Cascão…), a quem o compositor dedica emotivo poema-canção – o contador cantando a sua história de duplo Édipo, para acalentar a memória de quem “era bendita, era bonita, tal como a Lua no Canto dos Araçás”.
Chacoalhe de rir, ao espiar por trás de um bambuzal, a frustrada Serenata em Capoeiras. Desastre completo: a musa a ser homenageada não só não estava em casa. Foi muito pior: chegou de carro com a família, “flagrando” os “serenautas”. E ainda trazia no braço um namorado oficial. Violão e versos jogados fora…
Si non é vero, é bene trovato e Jorge deixa claro que seus causos não precisam provar verossimilhança: “há causos que são verdadeiras pérolas. Quer sejam verídicos ou não, isso não tem a menor importância” – admite um Jorge confessional, em O Encanador.
Manezinho do “Triângulo Zimba-Laguna-Floripa”, o autor testemunha um bloco de sujos em Carnaval na Praça XV, autodenominado Contaminados pelo Cézio – pode?! – vai a um baile no Bola Preta do Rio, servindo de álibi para um tio boêmio, e até compõe para o carná de Floripa, por encomenda do mané Irê Silva. Uma marcha-rancho de indecoroso apelo: A Linguiça do Carlinho… Pode?!
No “Triângulo” do Jorge pode.
Até porque o cantador-contador de histórias toma o bem-humorado zelo de avisar bem na porta do livrinho:
– Nada aqui é para ser levado tão a sério.
Notas Biográficas:
SERGIO DA COSTA RAMOS: O mais festejado cronista da Ilha de Santa Catarina. Advogado e Jornalista. Escritor. Membro da Academia Catarinense de Letras. Ilhéu, nascido em Florianópolis. Brinda-nos,diariamente, com sua crônica no Diário Catarinense.
Da sua produção literária mais recente, destacam-se as obras: Sorrisos meio sacanas; O plano surreal; Rapsódias do mundo Bin – Ou não confia nem no carteiro;Costela de Adão – De um fiel às mulheres e a boa mesa e Duas Violas Arteiras (com Flávio Cardozo),Piloto de Bernunça.
sergiodacostaramos@diario.com
JORGE COELHO:Natural de Imbituba,antiga armação das baleias,no Sul catarinense. Toca violão desde os 16 anos, participando de grupos musicais e destacando-se como compositor. Muda-se para Florianópolis em 1975, forma-se em Engenharia Elétrica na UFSC e continua a carreira musical sob a influência da MPB.
Paixão Açoriana(1997) foi seu primeiro CD. Segue-se: Zimba (1999),Farol dos Naufragados(2003) e a sair em breve Santa Terra. Recebe Prêmio Cultura Viva,Fundação Catarinense de Cultura,1997. Assina a trilha e faz a Direção Musical do curta metragem ILHA (2001), do diretor Zéca Pires, premiado no Festival de Cinema de Gramado(RS). Em 2005 se apresenta nos Açores à convite da Direção Regional das Comunidades e em 2006 participa na Ilha de São Miguel (Açores) do projeto "Construir Culturas" com artistas dos Açores,Estados Unidos,Canadá e Brasil, resultando na produção de um CD e livro.
Na sua estréia literária, o compositor talentoso se revela um delicioso contador de história, a sua e a dos outros desde a paradisíaca Imbituba.
Jorge Coelho é homenageado, por seus muitos amigos e admiradores por sua lealdade aos valores culturais telúricos, por sua paixão a sua terra Catarina e aos Açores,por sua grandeza humana, por sua Arte que encanta, pelo grande artista que todos reverenciam.
Fala Serjão. Meu parceiro querido. Desculpas pela demora em comentar o nosso grande e glorioso Jorge Coelho. Quantas noites, quantas músicas, quantas alegrias, quantas geladas, só tenho boas lembranças no que diz respeito ao JC. Sou até suspeito para falar. De qualquer forma fica aqui o meu grande abraço. Antonio do Cavaco.
ResponderExcluirParceiro Antonio do Cavaco, o cara não é fraco. Nada mais, nada menos que Sérgio da Costa Ramos, avalizou o livro "Triangulo das Bernunças. Tem mais, entre muitas pesquisas, encontrei esse blog: http://www.raizonline.com/cinquentaeum/paginatrintaum.htm , alem da autora enaltecer o belo trabalho de Jorge Coelho, tem o áudio da musica Rancho de Amor a Ilha. Aquela sabe? Sim, a que você sempre abre todas manhas, quando do niver de Floripa.
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